Pergunte a uma avó ou bisavó e ela vai te dizer como eram feitos os partos antigamente. As únicas pessoas com quem as grávidas podiam contar eram as parteiras: mulheres que tinham experiência com partos e iam as casas a pedido dos maridos aflitos e da própria gestante. Justamente pela falta de assistência e segurança em eventuais problemas durante o trabalho de parto (e após) para mãe e filho, a taxa de mortalidade de ambos era grande.
Felizmente, hoje podemos contar com acompanhamento pré-natal e exames cada vez mais precisos e desenvolvidos para detectar qualquer possível problema no feto ou mesmo com a saúde da mãe com tempo suficiente para tratar. Parteiras? Raro, muito raro. Aliás, conceber filhos na forma natural é algo raro nos tempos atuais.
Com o surgimento da cesariana e a possibilidade de evitar as terríveis e temidas contrações durante o trabalho de parto, mulheres quase automaticamente optam pelo procedimento cirúrgico. Mas, a decisão não é unânime e parece que de uns tempos pra cá, a opção pelo parto normal têm sido mais frequente. Aliás, o parto normal sem intervenção medicamentosa ou qualquer interferência do tipo (isso inclui ausência de enfermeiros, indução de contrações…)vêm dando o que falar.
Parto domiciliar humanizado, a mulher dá à luz em sua própria casa sem ajuda médica. Apenas ela, uma banheira e uma ou duas doulas (profissionais que atuam como psicólogas em todo processo acalmando e tranquilizando a gestante). Parece perfeito, não é? Confesso que ao assistir o vídeo na internet fiquei encantada e mais, penso em dar a luz a meu filho dessa forma claro, se minha saúde e médico aceitarem.
Mas, parece que isso vai ser meio difícil quando for a minha vez até porque, bastou um programa de televisão exibir o vídeo e ter o parto humanizado domiciliar defendido pelo obstetra Jorge Kuhn (UNIFESP) para que uma mobilização envolvendo médicos de outros locais e até mesmo o Conselho Regional de Medicina.
Como no nosso país, temos o privilégio de expressar nossas idéias e opiniões (embora ultimamente os últimos acontecimentos da sociedade parecem querer acabar com isso), o médico paulista conquistou uma legião de defensoras, entusiastas do parto em casa que se sentiram desrespeitadas como cidadãs com a posição do órgão regional quanto ao procedimento e declaração do médico. Como manifesto, realizaram a Marcha do Parto em Casa em várias cidades brasileiras.
O manifesto contou com a presença de dezenas de mulheres, a maioria grávidas, ao Parque Farroupilha no último domingo (16.06), todas com faixas e cartazes expressando o direito da gestante de escolher onde preferem fazer seu parto: em casa ou em uma maternidade.
A polêmica se deu por conta do nome “domiciliar”. A classe médica considera este, um procedimento de grande perigo visto que o mesmo dispensa qualquer tipo de apoio profissional, o que aumentaria consideravelmente as chances de complicações por falta de estrutura no amparo a possíveis problemas com mãe e filho no ambiente residencial.
Para o obstetra José Geraldo Ramos (UFRGS), o parto humizado domiciliar chega ser um retrocesso quanto a tudo que a medicina conquistou em todo esse tempo. Os principais argumentos do médico contra a esta prática são a ausência de agilidade para tratar complicações como hemorragias, paradas cardíacas, que só podem ser controladas em ambiente hospitalar, no caso, na maternidade.
Um dos países que mais realizam partos domiciliares, a Holanda, têm um índice de mortalidade de bebês nascido em casa bem maior que aqueles nascido graves, mas, em ambiente hospitalar.
Já o obstetra e ginecologista Alberto Jorge de Souza Guimarães, defende a prática do parto humanizado e acredita que a gestante tenha o direito de optar pelo parto, permitindo que o pai participe ativamente e diretamente de todo o processo, como acontece no parto domiciliar.
“Um nascimento com a menor necessidade possível de intervenções médicas ou farmacológicas dá ao recém-nascido uma experiência acolhedora neste período de transição”. Defende Guimarães.
Só para sanar possíveis curiosidades acerca do assunto: dados do Ministério da Saúde informam que, em 2012, 52% dos partos brasileiros foram cirúrgicos (cesariana). Na rede privada, o número praticamente dobrou, chegado a um índice de 82% e na rede pública, 37%. É importante lembrar que segundo orientações da própria OMS, somente 10 a 15% dos partos devem ser realizados por meio de cesariana.
Parto Domiciliar: Prós e Contras
Para que vocês tirem suas próprias conclusões, listamos os argumentos contra e a favor do parto domicilar. Confiram:
Prós
– A vivência do parto natural permite que o corpo atue de forma que a natureza haja como foi programada;
– Estreitamento da relaçao afetiva entre mãe e filho;
– As contrações do parto normal preparam o corpo da mulheres para as transformações que resultam com o nascimento;
– Com o parto normal, é liberado o hormônio ocitocina. Ele estimula as contrações do útero e auxilia na maturação pulmonar do bebê, além da produção de inúmeros hormônios que produzem o leite materno.
CONTRA
– Não existem recursos como os bancos de sangue e anestesia;
– A mortalidade dos bebês que nascem em casa é superior aos que nascem, em estado grave, nos hospitais;
– Não existe a possibilidade de transferência em casos de complicações, o que aumenta os riscos.
Sem dúvida alguma esse é um assunto que gera muitas opiniões e polêmicas mas, acredito que, se a gestação corre sem problemas para mãe e filho, indicando que a saúde de ambos encontra-se em ótimas condições (isenta de diabetes gestacional, hipertensão arterial, problemas respiratórios ou cardíaco), por quê não dar ao filho o direito de vir ao mundo sem intervenções cirúrgicas e garantir assim, inúmeros benefícios que sabemos existir para crianças que nascem de forma natural?